sábado, 15 de dezembro de 2012

Ondas...



Eu, que procuro no quebrar das minhas Ondas
O som do teu nome;
Perco-me entre o retrato e a espera
E ato-me na saudade atroz
Que nunca morre, apenas dorme...
Dorme onde não descanso,
Onde ecoa a tua graça.
Onde, embora sempre estejas,
Nunca me respondes...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Correntes singulares



Necessito aparecer,
Sair de dentro de você.
Anseio por te ter
Fora do meu corpo
Porque não sei quem sou
Quando estás em mim.
Mas quando não estás,
Encontro-me abalado
Nos resquícios do que fui.
Não sei  quem sou por querer ser para você.
Não sei o que sou quando vejo o seu ver.
Sou medo, pavor de dor.
Coloco-me a mesa como copos num dia comum.
Copos que no fundo são apenas um.
Por mais que desejo a partida,
Parte de mim que ficar
Dentro de você,
Dentro de nós,
Ou em qualquer lugar.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

O amar



Nem no tempo futuro,
Nem no passado imperfeito.
Muito menos no tempo atual.
Não dá mais!
Desisti de tentar conjugar o verbo amar.
Resolvi substantivá-lo,
Transformá-lo em coisa concreta
Ou qualquer outra coisa que se possa sentir,
Que se possa tocar e, sobretudo quebrar.
Só para tê-lo
Por alguns instantes nas mãos.
Só para vê-lo
Conjugado na primeira pessoa do plural
Antes que ele vaze por entre os meus dedos.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Carnaval em Drummond



Ficaste sozinho e desarmado.
Sábio recolhido no hospício.
Estar só: Difícil exercício
Para um nobre folião dissolvido.

Plural, jogas as cinzas do vivido
No calendário. Paz e silêncio
Para a tua memória: Um sacrifício
Brincar com o olhar emudecido.

Marchas elegíacas: Abre-alas
Do outono. Durante quatro voltas
Um velho puído pijama dá asas

E fantasia a tua dor. Abre as portas
De antigas primaveras vividas
No prazer e na abstenção. Datas...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Nuvens



Alta noite, olhar sem fronteiras - Espelhos
Estrangeiros. Caminhos de rosas sem fim.
Passo, passas... Fica a inquietude no jardim
Sem rugas, perfeita, abaixada de joelhos

Mirando no infinito dois prisioneiros
Acordados no tempo terreno assim
Como a foice da noite que orquestra o fim.
Constante silêncio – Lentos marinheiros

Perdidos na ausência inexorável do dia.
Destino real sem ecos. Ofício – Nuvens
Transitórias sem raízes, memória vazia.

O sol se põe humilde, só, sem deixar bens.
Apenas passos tímidos,pura ironia.
Personagens dúbios, sombras sem origens.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O silêncio da Bela




Carregas o sentimento mudo.
Areia no ar. Olhar turvo, laminal.
Suspiro... Atitude providencial.
Lábios de segredo. Outro mundo

Entre nuvens soltas construído
Sem palavras – Paraíso artificial.
Atravessá-lo?Caminho fatal!
Traumas oriundos do meu descuido.

Chão de pétalas. A cada passo
Ouço o silêncio das tuas lágrimas
Em inconstantes ondas. És vossa

A face que vejo com magoas?
Liberta-te deste tempo laço
Sem prêmio. Teu nome, oh Bela, falas!


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fuga




Rasgas a poeira do tempo.
Na margem dos teus cílios
Uma nascente. Idílios
Caem nesse espelho. Vento!
Que leva a ausência. Lento
Resíduo a vagar em rios
De lembranças. Filhos!
Do teu silêncio. Um mundo
Sem muro. As horas fogem
De um coração sem fundo.
Incerto passo: Viagem...
Um labirinto rindo
De ruínas sem coragem.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

"Noite"



Faca, palavra concreta,
Que parte como o vento
Dando cor e forma
Para a sua dor.
Uma nascente universal
Trilha os seus vestígios
Até uma cama
Sem casal.
Uma mulher resignada declama
Orações decoradas, ensaiadas
Para esse encontro casual.
Sobre a sua cabeça:
O que sobrou das estrelas.
Entre os seus dedos: o tempo!
Que converge como seu pranto
Enquanto à noite, a evocada,
Cai...

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Primeiro ato



O lençol escuro, aos poucos, vai cobrindo a grande cama.
As luzes do extenso palco, uma a uma, vão sendo acessas.
Camarins e igrejas improvisadas surgem das esquinas mais ermas.
Os sinais sonoros dos motores excitados anunciam o início do primeiro ato.
Abrem-se como cortinas e acomodam-se em qualquer tablado.
Morenas que se fazem de Marias, loiras que viram Joanas.
Com a bolsa à tira colo e um cigarro na mão direita
Choram, riem, bebem da bebida amarga.
Encenam e vendem seus mais maculados mistérios
Para uma tórrida platéia afoita por veleidade.
Atrizes circenses que se equilibram no picadeiro
E em altas plataformas.
Atrizes do asfalto que sobre o meio fio
Fazem vidas e a vida e aguardam ansiosas
Pelo início do segundo ato.

sábado, 14 de abril de 2012

Moinhos d'alma



No ritmo fugidio
Da oscilação compulsiva
Entre o ter sido e o vir a ser,
Os moinhos d’alma,
Algozes dos férteis pastos,
Arrancam da memória sementes ingratas
Olvidadas nos recôndidos
Do hiato que aparta
O utópico do real
E silenciosamente
Moem e trituram angustias e frustrações.
Por veredas estreitas,
Lúdicas venturas e idílios amorosos,
Rebentos do vazio,
Convergem-se e convertem-se
Em reminiscências dolentes de episódios sublimes
Que por um ensejo ou outro
Não advieram e fatidicamente
Em Se, vieram a fenecer
E desde então impulsionam
Atrozmente as lâminas afiadas
Dos moinhos d’alma
Que disfarçados de joguetes ingênuos
Moem e trituram angústias e frustrações.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Maquinaria poética



Ao longe se via
Uma silhueta disforme
Encostada nos pilares de um vestíbulo.

No crepúsculo de um dia tedioso
Um passadio repleno
Para maquinar e entreter o vazio do existir:

Insinuando-se no limiar
Entre o íntimo e o externo
Uma sombra de pólvora
Com suas grenhas de leão
Sorve todos os que aventuram
Decifrá-la.

Seus olhos no espelho
Um recinto insueto.

Seu amplexo terno e apertado
Seduz e induz os tolos enamorados
A perderem a lucidez.

Suas pernas pequenas, arteiras
Andam, engatinham e logram
Qualquer Édipo ou Rei.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Em liberdade














Por entre os interstícios
Da austera Persona,
Olhos lassos alforriavam
Brincos-de-princesa.

Um dia tirado das mãos,
Inerte, mirando a outra sem alma.
Uma efígie pitoresca,
Porém, recusada.

A arma pesada,
Arremessou-a num canto qualquer.
O uniforme apertado,
Rasgou-o ainda no próprio corpo.

A víscera, agora desnuda
Dos ornatos aguerridos, acompanhava
Ritmada o ruído dos pés descalços.

O semblante liberto,
De ser aquele ser, ansiava poder
Apenas ser...

Podia adejar,
Mas preferiu andar.