sábado, 27 de dezembro de 2014

Prólogo



A consciência pesada.
O corpo, leve!
Bem mais leve...
Mas deixe-o aqui!
As calças que ontem eram justas, retas,
Hoje, totalmente “corruptas”,
Dançam folgadas na correia
Sem mais furos ou dramas
Para fazer.
Os dias e as noites
Tornam-se homogêneos.
O passado, o presente e futuro
Embaralham-se em uma relação paradoxal.
Sobre a mesa um velho relógio
Com o vidro quebrado, furtado,
Faz-me, realmente, sentir
O peso e o toque do tempo.
Sem cerveja, sem cigarros,
Mas com muitas palavras
Digitadas ou rabiscadas.
Sem mulher, sem colo,
Mas com muitos desejos
Orados e encaminhados.
Ainda leva muito tempo meu bem,
Ou quem sabe para o meu bem;
Pra eu poder
Sair por aí...
Ver o dia amanhecer novamente,
Deliciosamente perdido, numa mesa
De Botequim!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Algum lugar.



Algum lugar para poder te dizer...
Para poder nos ver.
Algum lugar longe dos nossos olhos, mas perto de nossas mãos.
Algum lugar para poder ouvir as cores do nosso silêncio.
Só para te dizer:
Quisera eu ter o dom de voltar no tempo.
Quisera eu ser o vento...
Algum lugar para poder te dizer...
Para poder nos ter.
Algum lugar onde nossos pés ficassem firmes no chão.
Algum lugar para segurar a sua mão.
Só para te dizer:
Quisera eu poder nos entender.
Quisera eu ser o verbo.
Só para poder nos recriar e simplesmente continuar.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Mulher real


Escrever-te-ia inúmeros sonetos
Com versos decassílabos
Deleitando-me de vocábulos
Classicistas e eloqüentes.
Escrever-te-ia lúdicas e sublimes
Oratórias do topo
Da Torre de Marfim
Como um ourives
Em sua profissão de fé.
Escrever-te-ia se sua imagem
Fosse apenas um idílio,
Uma forma vazia,
Uma terna ilusão!
Escrever-te-ia...
Mas não!
Te escrevo em versos livres
Sem regras e rimas
Numa linguagem
Que só a gente conhece.
Te escrevo acordado,
Olhando em seus olhos,
No suor e na fricção
Dos nossos corpos.
Te escrevo de pés no chão,
Alma solta ao vento
E ao tempo.
Te escrevo!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Distância ou ironia?



Não...
Não eram passos soltos!
Mas sim um andar
De namorada distante...

Distante dos olhos,
Da boca, do tato.

Distante nas noites longas e vazias.
Distante dos braços vazios!

Não...
Não eram apenas palavras!
Mas sim um toque
Sutil de ironia...

Ironia presente em um pretérito imperfeito
Que não se consumia, mas sim seguia
Como um gerúndio afoito, avesso a qualquer tipo de erro.

Ironia que nada dizia, mas era sentida
Na enorme cama vazia onde os ponteiros pesados de sua consciência
Arrastavam e rangiam como correntes pesadas.

Ironia que embora não fosse invisível
Sempre se dissolvia e se perdia 

Naquelas noites frias e vazias!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

"super" Homem



Ser apenas Homem...
Sem asas, capa,
Mas com olhos.
Sem poderes, mágicas,
Mas com mãos.
Ser apenas Homem...
Largar pelo chão
Essas armas pesadas,
Essa armadura apertada.
Ser apenas Homem...
Com lágrimas, medos e talvez um pouco de saudade.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Corações etílicos



Sim, é preciso, às vezes, perder-se entre
Drinques e quadris.
Entre a madrugada e cama desarrumada.
Na borda circular do cálice
Que excita, relaxa e aproxima
Pares de uma mesma sintonia,
De uma mesma sinfonia
Que rege e enrijece corpos
No encontro dos lábios
Com a superfície translúcida dos copos.
Sim, é preciso, às vezes, perder-se entre
A euforia e uma face distante.
Entre o retrato e o som da pequena caixa multiuso
Que traz e leva sons para paragens distantes,
Que acarreta em doses de bebidas já conhecidas
E a perca ou ganho de outros sentidos
Consentidos ou não
Ao lado de outra companhia
Ou bebida.
Em momentos de alegria
Ou quiçá de ironia.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Entrelinhas



Idas e vindas...
Durante muitas vidas
O que era perto se fez distante,
Longe, mas constante...
Linhas que se cruzam e se eternizam
Homogenias como água cristalina.
Uma forma singular.
Na escassez do de repente,
A melodia do encontro.
Para páginas em branco,
Sementes no chão.
Cartilha decorada...
Antigas lições
Tão atuais,
Mas sem Barroco.
Totalmente simples.
Quase árcade,
Sem detalhes.
Simples como deveria ter sido
Em muitas vidas,
Mas as idas e vindas
Fizeram do perto
Algo previsível,
Distante, embora constante...

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Água...



Somos todos Água,
Embora insistam em nos chamar de Terra.
Somos todos correnteza,
Embora insistam em nos enraizar.
Somos todos Água:
Formas cristalinas que fluem por nossas retinas,
Que transpiram por nossos poros,
Que lubrificam a fricção dos nossos corpos.
Somos todos Água:
Essência que purifica e que tira as máculas
De sonhos mal vividos,
De amores encardidos,
De todo tempo perdido...
Somos todos Água,
Embora insistam nos chamar de terra.
Somos todos fluxos livres,
Embora insistam em nos canalizar.
Somos todos Água:
Saliva libertina em bocas que se confluem,
Em portos abertos para a jangada,
Em espumas de ondas em costas livres.
Somos todos Água:
Elemento vital e fatal para novas vidas.
No vai e vem da maré afoita,
No encontro caliente das Águas
Explosivas do mar
Com as Águas ferventes
Do rio.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Seus.


Sem raízes e com asas afiadas
Ela cortava os Seus.
Pretérito imperfeito
Sem pessoa no plural.
Quanto mais impar
Ela se tornava,
Menos par ela formava.
Errante, fugidia...
Rezava e postava
Homilias paradoxais
Gargalhando sozinha
Na frente do espelho
Do mundo.
Ortodoxa, indeclinável!
Evocava e clamava
A quase noite dos Seus,
Dando longos tragos
Em seu cálice
De pesar.